por Victor Moletta
Quero começar este texto pedindo desculpas. Se você, como eu, acredita que o rock é o melhor de todos os gêneros musicais, parabéns! E sinto muito, porque o rock morreu! E eu vim aqui hoje para enfiar isso nessa tua “cabeça dura” de vez.
Não adianta, o rock nunca mais voltará a ser o mesmo que foi dos anos 60 aos 80. Eu sempre achei que um dia, alguém apareceria com uma banda incrível e o rock renasceria. Ou que grandes nomes ainda vivos (Paul McCartney, Elton John, Eric Clapton, os irmãos Van Halen, Bruce Dickinson…) pudessem trazer tudo aquilo de volta. Mas não dá. O bom rock – o rock de verdade que eu aprendi a amar – morreu e não tem volta.
Quer saber o motivo? Simples: o rock não era somente a música. Não era simplesmente a maravilhosa guitarra de Jimi Hendrix, a voz incrível de Robert Plant, a bateria sensacional de John Bonham ou o baixo de John Entwistle que nos fazia implorar por mais. Não se tratava apenas do som sem igual do Metallica, ou das excepcionais músicas do Pink Floyd. Era muito mais que isso. O rock foi o que foi graças às lendas que giravam em torno dele.
Isso mesmo: LEN-DAS. Não tá entendendo, né? Eu explico. Mas tenho que recomeçar o raciocínio.
Esse tema já cozinhava na minha cabeça há algum tempo. Uns dias atrás, lendo o ótimo blog Papo de Homem, achei um texto sobre Lead Belly, de Luciano Ribeiro (você pode encontrá-lo na íntegra aqui no link no fim do texto) que começa assim:
“Esta história é de um período quando não havia iPhones para registrar cada passo com uma fotografia. Simplesmente não havia Google para checar informações. Muito do que uma pessoa fazia na vida caía no esquecimento ou virava boato. Se você fosse digno de fazê-los ganharem força por um certo tempo, estes boatos transformavam-se em lendas.”
E pronto! Eu tive uma epifania: o que matou o rock foi a velocidade de informação.
Se você perguntar a um fã mais antigo da banda Rolling Stones sobre Keith Richards, provavelmente vai descobrir algo intrigante: no começo dos anos 70, antes de uma excursão pela Europa, ele teve que fazer uma transfusão de TODO o sangue de seu corpo por conta do abusivo uso de drogas, entre elas a heroína.
Com uma pesquisa um pouco mais aprofundada, você vai descobrir que os integrantes da banda Led Zeppelin eram todos praticantes de magia negra e rituais satânicos, principalmente o guitarrista Jimmy Page, que assumiu seu interesse por ocultismo e pelos ensinamentos de Aleister Crowley, chegando até a comprar o castelo que pertenceu ao mesmo. Tudo confirmadíssimo pelo livro Fallen Angel de Thomas Friend.
Falando em satanismo, a música Hotel California dos Eagles na verdade trata da história de uma igreja abandonada, e depois dominada por satanistas. Isso com certeza explica alguns versos da música como a besta que eles apunhalavam, e o fato de tudo ser tão lindo, mas na verdade uma prisão.
Nos anos 1930 Robert Johnson, um dos bluesmen mais influentes da história, vendeu a alma em troca da virtuosidade no violão. Aos 27 anos, chegou a hora de ele pagar o preço. E assim começa uma das maiores lendas do rock: O Clube dos 27, um grupo de artistas que faleceram aos 27 anos em circunstâncias perturbadoras e, às vezes, inexplicáveis. Entre eles estão Jimi Hendrix, Janis Joplin, Jim Morrison, Brian Jones, Kurt Cobain e recentemente o clube ganhou mais um membro: Amy Winehouse.
Todo mundo sabe que quem matou John Lennon foi Mark Chapman, mas o que as pessoas não sabem é que o crime foi encomendado pela CIA. Membros de extrema-direita do governo dos Estados Unidos consideravam o cantor um extremista e uma influência subversiva à juventude americana. E, pra confirmar, em 2004 o serviço secreto britânico ligou Lennon ao Exército Revolucionário Irlandês, o IRA. Chapmann teria sido submetido ao programa de controle mental da CIA o que explica as vozes que ele clamava ouvir, segundo ele “vindas diretamente do inferno”. Tudo isso pode ser confirmado no livro Who Killed John Lennon? de Fenton Bresler.
O pai da minha ex-namorada, sempre que podia, criticava meu gosto pelo rock dizendo que o “primeiro” rockeiro, Alice Cooper, havia feito um pacto com o demônio, no qual Belzebu teria dito a ele para usar maquiagem e nome de mulher, para lançar seu sucesso. “O primeiro” porque foi a banda dele que lançou a roupa preta e algumas excentricidades que sabemos existir nos palcos de rock’n roll.
Não sei se meu ex-sogro se sentiria triste se eu contasse que, na realidade, Alice Cooper era o nome da banda da qual Vincent Damon Furnier fazia parte, e que ele só adotou o nome da banda como seu nome artístico quando lançou carreira solo porque já era conhecido assim pelos fãs. E os elementos teatrais eram o que haviam dado popularidade à banda. Logo, nada mais sensato que mantê-los. E aqui acabou a primeira lenda: o pacto com o demônio.
Eu só sei de tudo isso porque fui pesquisar pra tirar toda aquela história que eu ouvia a limpo. Graças à Internet. Agora diz aí, se tivesse Wikipedia em 1975, você acha que a lenda do pacto teria se propagado? E sem isso, teria Vincent “Alice Cooper” Furnier feito todo o sucesso que fez?
Se tivesse Google lá em 1973, você acha que as pessoas acreditariam que Gene Simmons teria implantado uma língua de vaca cirurgicamente? E alguns anos depois, em 1977, quando a empresa Marvel (aquela dos Vingadores, sabe?) lançou uma história em quadrinhos sobre a banda Kiss, será que as pessoas levariam a sério o boato gerado pela própria Marvel de que na tinta vermelha usada na impressão da graphic novel havia amostras de sangue do próprio Gene “Língua-de-Vaca” Simmons e seus três companheiros?
Sabe o que teria acontecido se um fã tivesse um iPhone durante o show da turnê Noite Dos Mortos-Vivos no qual Ozzy Osbourne mordeu a cabeça de um morcego? Ele teria postado no facebook um vídeo onde o cantor passava mal, o show era interrompido, Ozzy socorrido e levado para o hospital. E ainda colocaria a seguinte frase na postagem: “Vocalista retardado tenta manter a pose de ‘Príncipe das Trevas’ e se dá mal!”
O que seria de Marilyn Manson se ele não tivesse arrancado as costelas para praticar sexo oral em si mesmo? Imagina se Elvis tivesse mesmo morrido – na verdade ele forjou a própria morte pelo cansaço da vida de famoso e está vivo e bem, aproveitando sua fortuna em algum lugar do Pacífico. E a melhor de todas: Paul McCartney morreu em 1966 em um acidente automobilístico e foi substituído por um sósia pelos integrantes dos Beatles. E várias pistas na capa do álbum Abbey Road (aquele em que eles estão atravessando a rua) e em várias das músicas da banda pós-1966 confirmam isso.
Eu confesso que até começar minha pesquisa para esse texto acreditava que o baixista do Kiss teria cortado o freio da língua ou feito algum tipo de cirurgia – nada tão drástico quanto o implante bovino – que aumentou o alcance da língua, mas não. É totalmente natural. Sem cirurgia, sem vaca. E eu sei disso graças ao Google.
Mas não tinha Google, Wikipedia, iPhones, Facebook, Instagram e sei-lá-o-que-mais naquela época. E graças a isso, o rock teve bem mais do que aqueles 15 minutinhos de fama. Graças à falta de tanta tecnologia de informação, lendas nasceram para – por mais que saibamos as tristes verdades – ficar no coração, na mente e na memória dos fãs.
Então, voltando ao assunto, me desculpe se acabei com as tuas esperanças de ver o rock voltar a ser o que um dia foi. Mas você não está assim tão sentido, afinal você já se acostumou a todos os luxos que vieram com a velocidade de informação. Alguns de nós nem saberiam mais viver sem certos benefícios destas novas tecnologias.
Bom, acho que Roland de Gilead estava certo quando afirmava que “o mundo seguiu adiante”. E o Mundo, meu caro, o Mundo não espera por ninguém. Nem mesmo pelo bom e velho Rock’N Roll.
Lead Belly por Luciano Ribeiro – http://papodehomem.com.br/lead-belly-homens-que-voce-deveria-conhecer-36/
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